Como desenvolver a sua Inteligência Emocional?

“Só se vê bem com o coração

O essencial é invisível para os olhos.”

Antoine de Saint-Exupéry, O princepezinho

Porque são importantes as emoções?

Até ao século XX, a inteligência era considerada uma função cognitiva manifesta na facilidade em memorizar, rapidez em aprender, na resolução de problemas e raciocínio pronto. Contudo, ao longo do tempo, investigadores e cientistas  descobriram que a inteligência enquanto função estritamente cognitiva, sem contemplar o papel das emoções, não explicava o sucesso pessoal, profissional, o desempenho, e a influência das emoções na saúde e na doença. A ciência já provou que experimentar períodos longos de tristeza, pessimismo, hostilidade ou desconfiança aumenta o risco de surgirem doenças como a asma, artrite, úlceras e problemas cardíacos.

António Damásio, neurologista e neurocientista, foi o primeiro a provar a função das emoções no melhor pensar e decidir, com o caso do seu paciente Elliot. Se toma decisões apenas baseadas na razão, sem considerar a força e a direção das suas emoções, pode originar um verdadeiro desastre na sua vida.

Elliot era bem-sucedido profissionalmente, inteligente e de fácil relacionamento. A certa altura, começou a ter fortes dores de cabeça e descobriu que eram o resultado de um tumor no cérebro. Fez uma cirurgia que foi muito bem-sucedida e realizou testes indicadores de uma inteligência acima da média, ótima memória e uma linguagem fluente. Contudo, algo se tinha transformado gerando o caos na sua vida. Se antes era uma pessoa bastante prática, agora passava horas concentrado em pormenores irrelevantes. Decidir o que fazer ou realizar uma escolha simples, como optar entre uma camisa branca ou azul, tornou-se impossível. Como explicar esta incapacidade de decisão? A resposta estava no cérebro. Apesar do sucesso da cirurgia, e as funções intelectuais se manterem intactas, as zonas que comandavam as emoções ficaram bastante danificadas.

O que é a Inteligência Emocional?

Se pensa que a falta de inteligência emocional resulta sempre de uma anomalia no cérebro, nem sempre é assim. Então afinal o que é a inteligência emocional? Esta é um tipo de inteligência relacional ou social presente nas pessoas que têm facilidade em entender as emoções e pensamentos dos outros e, deste modo, comunicam, relacionam-se, e influenciam facilmente os outros numa determinada direção. São aqueles que ouvem para perceber e não para contra-argumentar ou justificar, o que explica o sucesso de grandes líderes como, por exemplo, o Papa Francisco, o ex-presidente dos Estados Unidos da América Barack Obama, ou Oprah Winfrey, empresária e apresentadora na televisão, dona de uma enorme fortuna e que superou os efeitos de acontecimentos bastante traumáticos.

“Quem lhe ensinou isto, Doutor?

A resposta, veio, pronta:

O sofrimento.”

Albert Camus, a Peste

Como se traduz a Inteligência Emocional?

Foi o psicólogo Daniel Goleman quem popularizou este conceito em 1995 com o seu livro “Inteligência Emocional”. A competência emocional traduz-se globalmente em duas vertentes: uma pessoa, que tem um papel decisivo no modo como se gere a si próprio, e uma dimensão social, que determina a forma como se relaciona. Se for emocionalmente inteligente, conhece-se bem; reconhece com facilidade as emoções em si e nos outros; sabe controlar-se; é motivado e luta para se aperfeiçoar ou ter o que ambiciona; e influencia intencionalmente as outras pessoas. Mas, para isto precisa, em primeiro lugar, de se conhecer. Caso contrário será difícil dominar-se, compreender e relacionar-se com os outros.

Como tirar partido das emoções e desenvolver a Inteligência Emocional?

Autoconhecimento

O filósofo chinês Lao Tse já dizia há milhares de anos: “Aquele que conhece os outros é avisado, o homem que se conhece a si próprio é sábio”. Esta capacidade de identificar o que sente, de reconhecer as suas forças e limitações e confiar nas suas capacidades e no seu valor próprio, é fundamental para aprender a manter o autodomínio, que a linguagem popular designa por maturidade, e o cristianismo eleva ao lugar de uma virtude fundamental, a temperança. Sem autoconhecimento, não tem domínio sobre si, tem dificuldade em ter empatia e em estabelecer ligação com os outros.

. Controlo Emocional

Para Daniel Goleman, a incapacidade de lidar com emoções ou sentimentos perturbadores como a zanga, ansiedade, pessimismo e depressão, e outras emoções tóxicas é equivalente aos efeitos do hábito de fumar, no corpo. Contudo se aprender a decifrar e moderar as suas emoções, pode ganhar o impulso da alegria para se relacionar com maior facilidade, tomar previdências quando o medo surge, ou dar valor a alguma coisa ou alguém quando a tristeza irrompe. A capacidade de evocar sentimentos, memórias ou pensamentos agradáveis pode, por si só, fazê-lo mudar de um estado de elevada tensão para um maior relaxamento. O controlo emocional é uma das competências que mais influi na capacidade de se liderar a si próprio e tornar-se um construtor ativo do seu destino.

Motivação

Pode encontrar um dos melhores exemplos de motivação no filme “A busca da felicidade”, baseado num caso verídico. Chris, o protagonista, apesar dos seus esforços, não conseguiu encontrar um trabalho que lhe desse rendimento. A mulher, pressionada pela falta de dinheiro, deixa-o com o filho de cinco anos. Chris acaba por aceitar um estágio não remunerado perspectivando um futuro mais promissor numa empresa financeira. Mas, sem dinheiro acaba por ser obrigado a viver na “rua”. Apesar de todas as dificuldades persiste no estágio e não deixa de dar atenção ao filho, que passa a ser o principal motivo para ultrapassar todos os obstáculos e, por fim, ter o futuro desejado.

As competências pessoais como autodomínio, motivação e maior autoconhecimento, estão presentes em muitos dos meus clientes que recorrem ao coaching para se motivarem a ir mais além. Para resolver o passado e viver mais no presente procuram a psicoterapia. Esta cura da mente, através da palavra, tem um enorme poder terapêutico com efeitos benéficos, quer nas emoções, quer no tratamento das doenças do corpo, tal como foi constatado pelos médicos Sigmund Freud e Carl Jung.

As restantes qualidades da inteligência emocional, como a empatia e as competências sociais, serão discutidas num próximo artigo, no qual apresentarei também um conjunto de dados científicos sobre o impacto da inteligência emocional na vida, no trabalho e nos negócios.Lembre-se que desenvolver a inteligência emocional deveria ser uma preocupação e prioridade, não só sua, como das famílias e outras instituições. Os sentimentos, que são emoções que se mantêm no tempo, ajudam a orientar o pensamento e ação, e a decidir melhor e mais rapidamente do que se utilizar apenas a lógica. E, sobretudo, permite-lhe manter a saúde do corpo e da mente, e assim ter uma vida mais feliz e realizada.

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