Afinal, o que é a produtividade e qual a sua relação com o bem-estar?

Dia 20 de Junho celebra-se o Dia Mundial da Produtividade. Este é um tema de que muitos falam, mas que nem sempre é consensual ou, melhor dizendo, não tem o mesmo entendimento para todos. Talvez pense que esta é mais uma questão para gestores e economistas, mas se considerar que a sua produtividade é sempre uma medida daquilo que obtém em função do esforço, energia que dedica a cada coisa, talvez desperte mais a sua atenção. Mas continue e perceberá de forma simples o que é a produtividade, qual a relação desta com a sua qualidade de vida e como melhorar a sua produtividade e bem-estar sem se tornar uma máquina ou despender mais esforço do que o necessário.

“A vida divide-se entre prosa e poesia.

A prosa é constituída por todas as coisas que fazemos por obrigação.

A poesia é tudo o que nos faz amar, comunicar e florescer.”

Edgar Morin

O que é a produtividade?

A produtividade é um indicador de gestão e económico que relaciona recursos (tempo, pessoas, custo, etc.) com a produção de um determinado resultado (dinheiro, produtos, entre outros). Uma pessoa é mais produtiva porque é mais rápida do que a outra ou porque faz o mesmo que outra por um salário mais baixo. Uma empresa é mais produtiva que outra se faturar o mesmo, mas tiver menos empregados e um país é mais produtivo que outro se para o mesmo PIB (produto interno bruto, indicador de desenvolvimento económico) as pessoas trabalharem em média menos horas do que outro com o mesmo PIB. Por exemplo, a Alemanha é um país mais produtivo do que os EUA, porquê? Porque na Alemanha, em média, trabalha-se oito horas por dia enquanto nos EUA trabalha-se dez horas por dia (de acordo com o que ouvi  numa conferência, do economista já falecido, José da Silva Lopes).

A qualidade de vida está diretamente relacionada com a produtividade?

Inúmeros estudos têm relacionado a importância da qualidade de vida no bem-estar físico e psicológico com impacto na criatividade, desempenho e, em particular, na produtividade.

Num estudo de 2014[1], foi evidenciada a importância da qualidade de vida no trabalho (analisando vários factores que influenciam as condições do trabalho) e a qualidade de vida (que engloba desde fatores mais imateriais, como a felicidade individual e a satisfação emocional, até fatores mais tangíveis, como o bem-estar material). Concluiu-se que a qualidade de vida que inclui o estilo de vida e as condições no trabalho influenciam diretamente o equilíbrio, o bem-estar físico e psicológico, o empenho no trabalho e a produtividade (que resulta da relação entre o esforço e a energia que gasta para obter algo ou realizar uma actividade).

“Uma vida sem diversão é um longo caminho sem repouso.”

Demócrito

Como melhorar a produtividade e a qualidade de vida?

A produtividade resulta também da quantidade de energia e esforço que tem que fazer para alcançar um determinado resultado. Se precisa de se esforçar mais conseguir para conseguir o mesmo que outra pessoa consegue com menos esforço então significa que é menos produtivo, e mais importante do que isso, pode vir a comprometer não só a sua saúde como também a sua qualidade da sua vida.

A qualidade de vida, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS ), é a diferença entre a perceção da sua posição na vida em relação aquilo que aspira tendo em consideração os seus objetivos, expetativas, standards e preocupações. A sua qualidade da sua vida é menor quando as suas possibilidades – de acordo com os talentos, condições, recursos – não estão conforme com as suas expectativas ou aspirações. Ou seja, poderia obter mais, mas porque fica aquém pode tornar-se companheiro de estados de frustração, mal estar e/ou desmotivação.

O que fazer quando se sente pouco produtiva/o? 

Apesar de grande parte da produtividade individual e coletiva depender de um conjunto de políticas governativas, empresariais e dos líderes e dirigentes que impactam no seu trabalho, convém prestar atenção e, pelo menos prevenir, um conjunto de riscos profissionais que prejudicam a sua vida e a sua saúde.

Então, afinal o que fazer? Apresento algumas sugestões de seguida. 

8 Dicas para aumentar a sua produtividade: 

 

As primeiras quatro sugestões visam responder às maiores ameaças à produtividade identificadas atrás e, na prática, são das estratégias mais citadas em diversos estudos de investigação para a prevenção do burnout, uma doença profissional identificada pela OMS em 2019, e que resulta, entre outros, de uma sobrecarga, intensidade e exigência continuadas no trabalho, muitas vezes fruto de um esforço desproporcionado e pouco saudável.O burnout decorre da vivência de um stress profissional prolongado no trabalho que produz um esgotamento mental e emocional e que é responsável muitas vezes não só das faltas ao trabalho como estar de corpo presente apenas, sem interesse nem motivação. As restantes sugestoes encontram-se no meu livro “STOP – 50 Estratégias para pessoas sem tempo” e visam, também, aumentar a sua qualidade de vida.

1. Goste do que faz ou encontre um sentido para o seu trabalho.

Se não encontrar um propósito para o seu trabalho dificilmente terá um rendimento otimizado como diz Mihaly Csikszentmihalyi, o psicólogo que identificou a experiência de fluxo, que é um estado mental de total imersão e envolvimento numa atividade associada à experiência de quando alguém se sente feliz e ao mesmo tempo de grande rendimento ou produtividade.

2. Tenha equilíbrio entre a sua vida pessoal, familiar e profissional.

Não viva para trabalhar, mas trabalhe para viver e não se esqueça da sua vida familiar e social. Um dos grandes riscos do burnout é a ausência de vida social.

3. Divirta-se, cultive o humor na sua vida e ria-se.

Madan Kataria, médico indiano, descobriu que o riso sem razão, ou riso fingido, para além de provocar bem-estar, faz bem à saúde. Esta prática associa momentos lúdicos, exercícios de respiração e pequenos movimentos que pode introduzir no seu dia a dia para aliviar a tensão.

4. Tenha objetivos realistas e estabeleça prioridades.

Comece por se dedicar ao mais importante e prioritário, distinga o importante do urgente (o que é urgente raramente é importante). Comece e termine cada assunto apenas uma vez. Profissionais de saúde mental e da produtividade recomendam a técnica OHIO: Only Handle it Once (trate de um assunto de uma só vez). Esta é uma regra fundamental para pessoas que têm problemas de concentração, mas também para aqueles que precisam de se organizar.

5. Diga NÃO à quantidade de mensagens eletrónicas e comunique de forma certeira.

Aprenda a gerir melhor o seu e-mail, reduzindo as mensagens que recebe e envia. Utilize os meios e instrumentos digitais sem paixão (sem perder de vista que são um instrumento para um determinado fim) e comunicando de forma directa, concisa e objetiva.

6. Estabeleça limites.

Defina horários ou quantas horas dedicará ao seu trabalho, de forma que o seu trabalho não esteja omnipresente, quer no seu tempo “fora do trabalho”, pensamento, tarefas e/ou nas mensagens eletrónicas de e-mail, telefone, ou nas suas navegações da Internet, tempo com a família e lazer.

7. Faça pausas e tenha férias regulares.

Aproveite as pausas para fazer algo diferente do que estava a realizar. Faça sestas – pequenas sestas, de apenas 15 a 20 minutos, podem aumentar o rendimento e a produtividade pessoal, e fazer parte do ritmo circadiano (ciclo de 24 horas) do sono. Aproveita as férias para fazer algo diferente do habitual e, assim, revigorar-se na atividade ou noutras formas de descanso.

8. Pratique uma atividade física de que goste.

São inúmeras as hipóteses que lhe permitem restabelecer um equilíbrio entre mente e corpo, quer através da dança, yoga, ginásio, caminhada, piscina, bicicleta, entre outros.

Menos será sempre mais. 

Mudar ou adquirir um só hábito já é suficientemente difícil, portanto, será mais eficaz se se concentrar numa só coisa de cada vez do que em várias ao mesmo tempo.  Mantenha a regularidade e comece por alguma coisa. Mas, lembre-se que a sua produtividade não cresce se aumentar as suas atividades, se complicar, se aumentar o tempo que dedica aquilo que já faz.

A sua produtividade aumenta se se focar no que é mais importante e aprender a concentrar-se nas prioridades. Simplifique o que não traz valor nem para o seu trabalho, nem para a sua vida. E para atingir mais precisa de aprender a fazer, em muitos casos, menos, sobretudo se não acrescenta valor nem para si, nem para os outros. E, para isso… não tenha medo. Faça menos para conseguir mais! Perca o receio de ir “além para não ficar aquém”! 


[1] Brouwer, W.B.F., Koopmanschap, M.A. and Rutten, F.F.H. (1997), Productivity Costs Measurement Through Quality of Life? A Response to the Recommendation of the Washington Panel. Health Econ., 6: 253-259. (Consultado em Junho 2021)

 

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