Relacionamentos felizes: a arte de cativar e ser cativado

“A vida é curta para discussões banais, desculpas, amarguras. Só há tempo para amar e, mesmo para isso,é só um instante.”

Mark Twain

Cativa-me, diz a raposa para o principezinho

Antoine de Saint- Exupéry no seu livro “O Principezinho”, num diálogo magnífico entre a raposa e o principezinho, elege de forma simples a importância de cativar e ser cativado como o melhor antídoto contra a monotonia, solidão e infelicidade:

“ – Levo uma vida monótona, diz a raposa. Eu caço galinhas e os homens caçam-me a mim. Todas as galinhas são iguais e todos os homens são iguais. Por isso me aborreço um pouco. Mas, se tu me cativares, será como se o sol iluminasse a minha vida. (…)

A raposa calou-se e olhou por muito tempo para o principezinho.

– Cativa-me por favor, disse ela.

– Tenho muito gosto, respondeu o principezinho, mas falta-me tempo. Preciso de descobrir  amigos e conhecer muitas coisas.

– Só se conhecem as coisas que se cativam, disse a raposa….os homens já não têm amigos. Se queres um amigo, cativa-me.

– Como é que hei de fazer? , disse o principezinho.

– Tens de ter muita paciência, respondeu a raposa. Primeiro, sentas-te um pouco afastado de mim, assim, na relva. Eu olho para ti pelo rabinho do olho e tu não dizes nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, de dia para dia, podes sentar-te cada vez mais perto…

No dia seguinte, o principezinho voltou.

– Era melhor teres vindo à mesma hora, disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas da tarde, às três já eu começo a ser feliz. À medida que o tempo avançar, mais feliz me sentirei… Mas se vieres a uma hora qualquer, nunca posso saber a que horas hei de vestir o meu coração.”

Bons relacionamentos tornam as pessoas mais felizes.

Ao longo de 75 anos, investigadores da Universidade de Harvard acompanharam 724 pessoas (das quais apenas 60 seguiram o processo até ao fim).  Ao longo de todo esse tempo, fizeram um conjunto de entrevistas, acompanharam o trabalho, a vida doméstica, realizaram exames médicos de sangue, exames cerebrais, para descobrirem o que contribuía para que as vidas daquelas pessoas de vários quadrantes sociais, fossem mais gratificantes.

A  conclusão mais importante, de acordo com Robert Waldinguerer, o quarto diretor desta investigação, é que bons relacionamentos estão associados a uma vida mais feliz, mais saudável e mais longa. O fundamental não é relacionar-se com um maior número de pessoas, mas que aqueles com quem se estabelece a relação tenham baixos níveis de conflitualidade, o que não significa que estejam sempre de acordo e nunca se discuta com aqueles que lhe são mais próximos, nem que haja sempre muita tranquilidade.

Relações saudáveis contribuem para uma melhor saúde.

Se mantiver bons relacionamentos, será mais feliz e terá uma maior resistência e tolerância à dor física. Por exemplo: se tem 50 anos e se encontra satisfeito com as pessoas com quem se relaciona, irá envelhecer de forma mais saudável e terá uma maior tolerância à dor física.

Este estudo demonstra, então, que bons relacionamentos com a família, amigos e comunidade tornam a vida mais feliz e contribuem para uma boa saúde. Muito mais do que a fama, ficar rico ou trabalhar mais e melhor.

Como começa a arte de cativar e ser cativado?

Começou a sua arte de cativar e ser cativado com a sua mãe, pai ou outros substitutos. Foi cativado pela atenção, pelo afecto, presença, segurança e aceitação incondicional que recebeu e, desta forma, foi forjando o modo de se relacionar com os outros, que irá repetir e amar da forma como se sentiu e aprendeu a ser amado.

Se não teve a felicidade de nascer numa família estável e estruturada, no decurso da sua vida talvez se tenha debatido com as dificuldades inerentes a relações instáveis e insatisfatórias.

Contudo, não é o ponto de partida, o seu nascimento, os seus genes e a sua história que o definem, mas, sim, a sua capacidade, mesmo que desconhecida, de recriar a sua vida e as suas relações, aprendendo a cativar e a ser cativado quando se enamora, na amizade e em ligações mais fortes e passageiras como aquelas que estabelece com os colegas de trabalho, vizinhos e amigos de férias.

O que significa cativar?

Cativar significa criar laços. Ser cativado traduz-se nas suas ligações com as pessoas que existem na sua vida. E, talvez a sua ligação seja mais forte se cativar do que se for cativado. Porquê? Retomemos a história do principezinho, desta vez quando vai visitar as rosas:

“ – Vós sois belas mas vazias. Ninguém vai morrer por vós. É certo que, quanto à minha rosa qualquer vulgar transeunte julgará que ela se vos assemelha. Mas sozinha, ela vale mais do que vós todas juntas, porque foi ela que eu reguei. Porque foi ela que pus numa redoma. (…) Porque foi ela e só ela que ouvi lamentar-se ou gabar-se, ou mesmo, por vezes, calar-se. Porque é a minha rosa.”

E, nestes cuidados, na paciência que tem com todos aqueles que fazem parte da sua vida na escuta, no diálogo, foi cativando e simultaneamente sendo cativado, tal como o principezinho pela sua rosa. Foi o tempo que perdeu com as sua rosa que a tornou tão importante, pois foi com ela que aprendeu a “vestir o seu coração” e a aprender a ver melhor: “só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos”.

O que vai fazer hoje para “vestir o seu coração”? Para cativar e ser cativado?

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