4 estratégias para lidar com a ansiedade: o medo do desconhecido

Sofrer por antecipação

Sofre antecipadamente por situações que muitas vezes não acontecem (ter uma doença incurável… perder o emprego… não ter dinheiro para ter a qualidade de vida que necessita ou aspira)?

Duvida da sua capacidade para estar à altura dos acontecimentos (“não sou capaz… sou um fracasso”)?

Tem um apresentação no trabalho, um encontro profissional, uma reunião social, e começa uns dias antes a sentir alguns destes sinais: sem apetite, nauseado, com alterações no funcionamento do intestino, dificuldade em dormir e/ou um aperto persistente no coração e no estômago; pode até, nalguns casos, transpirar de forma desproporcionada, gelar ou ruborizar.

Será necessário este medo, que o faz sentir desabrigado, fora de casa, sem terreno seguro, que o angustia, o faz sentir sem saída, desamparado e, muitas vezes só, perante um futuro incerto e imprevisível?

Segundo o filósofo Heidegger, é preciso experimentar ansiedade para se existir. Esta resulta não de uma compreensão “teórica”, mas de uma experiência emocional pela maneira como se relaciona e está ligada à vida e ao mundo: enquadrada, ligada ou desconectada daquilo que o rodeia.

Nesse sentido, a ansiedade possui um valor considerável na vida, pois é o ponto de partida de uma viagem que encerra várias possibilidades, mas onde cada pessoa se encontra só no caminho para “se tornar a si próprio” e, nesse percurso, depara-se com diversas ameaças.

O realizador de cinema Woody Allen, nos seus diversos filmes, aborda de forma cómica este tema, através das suas personagens ansiosas, atormentadas por uma crítica interior, inoportuna, derrotista, e que insiste em estar presente alertando para cenários variados, criando tantas situações que faz jus à citação do escritor T.S Elliot:

“A ansiedade é a criada da criatividade.”

De facto, algum grau de ansiedade pode ser benéfico para a sua vida. Pode levá-lo a ter mais cuidado com a saúde, motivar-se para se preparar melhor e ter um melhor desempenho. A preocupação com a opinião dos outros pode evitar que se comporte de forma desadequada, obedeça às normas e convenções sociais e motivá-lo para se enquadrar e ser aceite.

O que é a ansiedade e o medo?

O que provoca medo são situações reais e identificáveis: perante uma ameaça, o medo prepara-o para enfrentar e defender-se de perigos eminentes.

Para François Lelord e Christophe André, psiquiatras e psicoterapeutas, os medos mais frequentes em adultos são:  animais (ratos, serpentes, insectos – 22%), alturas (20.4%), sangue (13.9%) e espaços fechados (11.4%).

O que gera ansiedade é indefinido e vago (sente uma borboleta no estômago ou intranquilidade sempre que está na expectativa, incerteza, ou perante a necessidade de fazer alguma coisa fora do habitual).

Na ansiedade há uma antecipação de um problema que pode não chegar a ocorrer, muitas vezes acompanhada por cenários catastróficos, alimentados pela divulgação  através dos media de tudo o que é acidente, desgraça (bancos que vão à falência, empregos temporários, escassos e mal pagos) e um clima geral de desconfiança nas instituições e pessoas.

Neste sentido, a ansiedade é o medo do que não se conhece, é uma preparação para lidar com uma ameaça indeterminada e abrangente.

Muitas vezes paralisa e leva a evitar relacionar-se com outras pessoas com receio do juízo e da crítica; a ter elevados padrões de perfeição no desempenho para evitar qualquer julgamento negativo; adiar o que tem que ser feito (procrastinação) ou distrair-se com tudo o que não faz pensar muito – assistindo a séries televisivas  durante várias horas, não perdendo nenhum jogo desportivo, ou mesmo intensificando diariamente, ou com elevada frequência, o exercício físico.

Que rostos tem a ansiedade?

Para o neurocientista Giovanni Frazetto, a “ansiedade é o medo em busca de um motivo”. E na procura desse motivo, encontram-se algumas manifestações:

  • Medo de situações sociais ou espaços públicos;
  • Ansiedade de desempenho, muito comum com os padrões de exigência e competitividade;
  • Ataques de pânico, obsessões-compulsões, que incentivam a persistir, repetitivamente e sem parar, em certos pensamentos, ou agir de forma inflexível para se livrar do medo: arrumar ou limpar de forma compulsiva o ambiente, porque se sente medo de um ataque de vírus ou bactérias.

Como lidar com o medo sem motivo, chamado ansiedade?

Deb Dana, psicoterapeuta e especialista em trauma complexo, convida os seus clientes a estarem atentos ao que antecede a sentirem-se entorpecidos, agitados e o que fazem para ultrapassar esses estados ou manterem-se seguros.

Para alguns pode ser avassalador encontrarem-se perante exigências constantes com as quais não conseguem lidar (trabalho, familiares, sociais, etc); sentirem-se ignorados, ouvir notícias dramáticas, terem dores crónicas, conflitos no trabalho, lista de tarefas, barulho, prazos, notícias (posts) nas redes sociais, etc.

4 formas para lidar com a ansiedade

  1. Reaja

Quanto mais paralisado se sentir, mais importante é reagir, realizando por vezes atividades básicas como: dormir, rezar, chorar, meditar, um banho quente, uma massagem, falar ou estar apenas acompanhado, receber um abraço, escrever, caminhar, etc.

  1. Atue

Para acalmar a agitação que sente, ajuda correr, desacumular, arrumar, planear, correr, cantar, dançar, tomar um chá, etc. De acordo com o psicólogo William James, o que importa é atuar de forma diferente. Se assobiar ajuda, então… assobie!

  1. Procure alternativas

A higiene do sono é fundamental e conseguir ter clareza de pensamento são importantes para desvendar os labirintos da vida. Muitas vezes é importante recorrer-se à medicação como forma de regular a ansiedade.

No entanto, de acordo com a informação disponível, não existe nenhum medicamento que elimine a origem e o que mantém a ansiedade. Para tal, é preciso perder o medo, aprendendo a lidar com a ansiedade, não através do evitamento das situações, isolando-se ou retirando da vida, mas recorrendo a outras soluções.

A psicoterapia cura a mente através de uma relação alimentada pela conversa – ultrapassa uma troca intelectual e emocional. Através da evocação de memórias ou temas, descobre significados, encontra alívio e permite-se orientar a atenção para outras possibilidades, sentidos, perspetivas de ação e relação.

Para o neurocientista Giovanni Frazzeto, este processo afeta diretamente o nosso cérebro. Existem dados que associam alterações no cérebro, pela produção de novas ligações entre as células nervosas, durante e após a realização de processos terapêuticos.

  1. Relacione-se e descubra segurança

Acalma-o passear na natureza, fazer jardinagem, ir à praia, tomar banho de mar, brincar com crianças ou animais, sentir-se útil contribuindo para alguma causa social, participando em tertúlias, ter tempo de qualidade com família, amigos, parceiro, etc.

A maior segurança vem de amar, prestar atenção e escutar os outros, descobrir o  que lhes interessa e faz feliz. Mas para sentir segurança precisa de ter sido amado ou sentir-se amado. Uma criança dizia: quando o meu pai vai a conduzir não tenho medo, sei que estou em segurança.

Ajuda tremendamente ter-se fé na vida e no amor, num poder superior. Quer tenha ou não fé, descubra a segurança para lidar com esse monstro indefinido e desconhecido chamado ansiedade, fazendo como dizia Santo Agostinho:

“Ama e faz o que quiseres!”

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